Por Comunicação AGPTEA – 08/10/2010 | 15:19
O CÂMBIO NO CENTRO DO PROBLEMA

A partir do final da Guerra Fria, ocorrido com o processo de abertura soviética em meados dos anos de 1980 e consolidado com a implosão do império soviético no início dos anos de 1990, o mundo passou a se concentrar, com mais objetividade, em outro tipo de guerra: a comercial. Hoje, a conquista de espaços econômicos se dá pela capacidade que os países possuem de avançar no comércio internacional. Foi nesse sentido que, desde 1986 particularmente, quando a Rodada Uruguai do então GATT foi lançada, que as negociações internacionais, conhecidas como multilaterais, passaram a privilegiar a abertura comercial entre os países. Ou seja, optou-se por combater com mais força o chamado protecionismo comercial praticado mundo afora. Protecionismo este representado pelo uso das mais diferentes políticas de comércio postas em prática pelos Estados: tarifas aduaneiras, subsídios, contingenciamentos etc. Nos últimos anos a sofisticação do processo aumentou, a ponto do chamado protecionismo não-tarifário ganhar enorme espaço. Trata-se de bloquear comércio usando como artifício a ecologia, o meio ambiente, as questões sanitárias e fitossanitárias etc. Todavia, o mundo jamais deixou de praticar um comércio relativamente protecionista. Particularmente junto a produtos considerados sensíveis, caso dos alimentos oriundos da produção agropecuária. E são os países desenvolvidos os que mais protegem suas economias, em especial o setor primário.

O CÂMBIO NO CENTRO DO PROBLEMA (II)

Essa realidade é tão importante que, nesse momento, a Rodada Doha da OMC (órgão que substituiu o GATT em 1995), visando abrir mais o comércio mundial, lançada em novembro de 2001, ainda não terminou, se tornando na mais longa da história das negociações comerciais multilaterais. Todavia, apesar dos esforços mundiais no sentido de se construir um comércio mais aberto, fator gerador de mais renda e emprego para os países, o mundo não tem atacado um dos principais problemas da competitividade dentre os mesmos: o câmbio. Ou seja, a desvalorização das moedas nacionais pode tornar artificialmente mais competitivos os produtos exportados pelos países que a realizam. É o que vem acontecendo com os EUA, desde, pelo menos, 2003. A perda de força da moeda norte-americana, que não encontra reação no Banco Central daquele país, coloca a maioria das moedas mundiais, inclusive o Real brasileiro, num valor muito elevado. A exceção tem sido a China, que desvaloriza sua moeda por intervenção estatal. Esse problema cambial torna-se hoje o principal elemento mundial, dentro da crise maior existente. Um acordo entre países, talvez no quadro do G20, terá que ser feito, no sentido do dólar se fortalecer novamente. Caso contrário, moedas como o Real, que deveria logicamente estar valendo cerca de R$ 2,20 por dólar, despenca para R$ 1,67, sem perspectivas de mudança. E, num contexto de câmbio flutuante que se pratica, aumentar o IOF para 4% sobre determinadas operações financeiras está longe de ser suficiente.

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (CEEMA/DECon/UNIJUI)
07/10/2010