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12 de dezembro de 2016A primeira escola superior agrícola do RS
Por Bruna Alves do Carmo – Diretora da Casa Costa e Silva, da Sala Açoriana Dr. João Bosco Mota do Amaral e Da Biblioteca Municipal de Taquari
A cidade de Taquari é citada por muitos historiadores, tal qual João Borges Fortes, em sua obra “Os Casais Açorianos”, como uma das únicas povoações exclusivamente colonizadas por açorianos no Rio Grande do Sul. Seu fundador, José Custódio de Sá Faria, então Governador do Continente do Rio Grande de São Pedro do Sul, acreditava que somente os filhos de portugueses poderiam levar adiante a missão de ocupar e guardar o patrimônio territorial do Sul do Brasil. (BALEM; 1949:14). Assim, estabeleceram-se 14 casais açorianos no município, mas apenas sete permaneceram.
Os açorianos de Taquari foram os precursores na produção de trigo e frutas cítricas no Estado, e a cidade passou a ser considerada como “o berço da agricultura” e o “berço da produção de laranjas” da Província do Rio Grande de São Pedro. (SANTOS; 2008:56)
Foi nesse cenário que se iniciou uma campanha para a criação da primeira escola agrícola do Estado. No dia 31 de julho de 1887, foi editado o primeiro volume do jornal O Taquaryense, destinado a ser a voz da opinião pública local. Na edição de 30 de agosto do mesmo ano, foi estampada uma circular do vice-presidente da Província às Câmaras Municipais, que continha o seguinte conteúdo:
Esta circular teria chamado a atenção do jovem médico da Bahia, Aurélio Tenigno de Castilho. Observa-se nesses jornais que foram publicados vários artigos sobre agricultura com o pseudônimo “Heráclito” ou sem assinatura. Haetinger relata que pelos textos supunha-se serem de autoria de Castilho, pois na Bahia já existia a primeira Escola Superior de Agronomia, criada em 1859, por D. Pedro II , com o nome de Imperial Instituto Bahiano de Agricultura.
Haetinger atribui a João Mendes da Silva, um romancista taquariense a divulgação dos artigos de Heraclito. Eles transmitiam as ideias principais de uma zona de agricultores e prepararam de forma eficiente a opinião pública na época.
Realizou-se, então, uma campanha por intermédio do jornal sobre a construção de uma viação férrea e a criação de uma escola agrícola no município. Em 21 de dezembro de 1887, partiu da Câmara Municipal um ofício-resposta à circular do vice-presidente da Província, referindo-se ao pouco desenvolvimento da agricultura no município, devido à falta de conhecimento dos produtores e dos métodos inadequados de cultivo. Ressaltava ainda que não adiantava trazer para Taquari correntes imigratórias sem proporcionar conhecimentos necessários, nem enviar máquinas e equipamentos que eles não soubessem manejar.
Reconheciam, pois, os responsáveis que não bastava ligar o município por meio da viação férrea aos centros de consumo, sem que o próprio município tomasse medidas eficazes para aumentar a produção pelo ensino profissional. (HAETINGER, 1985:19) Em 1887, foi nomeado o Presidente da Província, Rodrigo Villa Nova, natural de Taquari, que trouxe mais esperança sobre a construção da viação férrea e da escola. Mas, em 20 de março de 1888, ele pediu demissão. Surgiu então um dos grandes incentivadores dos dois projetos: o médico Castilho. Ele pensou em criar um imposto especial para sustentação do corpo docente e mandou ofícios ao Ministério da Agricultura para a obtenção da verba necessária. Ele conseguiu a aprovação.
Na página 25 do seu livro, Haetiger cita que no natal de 1889, o jornal A Federação anunciou:
Após, foi formulado um contrato com o Ministro Lourenço de Albuquerque para a criação da escola. Entretanto, devido a Proclamação da República em 1889, a construção foi adiada. Muitos foram os percalços até que, em 7 de Janeiro de 1890, Marechal Deodoro da Fonseca assinou no Rio de Janeiro, o decreto de aprovação da Escola Agrícola de Taquari.
Assim, Castilho começou a busca por terras apropriadas. Escolheu uma parte da antiga Fazenda Canabarro, no lado esquerdo do Rio Taquari, que já estava à venda desde 1887. Encontrou-se o seguinte anúncio no jornal O Taquaryense:
Castilho, finalmente, acertou a compra dos 266,820 hectares. Em março de 1890, o governador do Estado aprovou a escolha do local e no dia 30 de março de 1890, às 11 horas, foi lançada a pedra fundamental no local denominado “Estaleiro” da Fazenda Canabarro.
A escola foi inaugurada no dia 18 de outubro de 1891, começando suas atividades com 19 alunos. Após três anos, Castilho fez um novo projeto, pois queria instalar um curso superior em Taquari, com a finalidade de formar engenheiros agrônomos. O Governo do Estado aprovou o programa da primeira Escola Agrícola do Rio Grande do Sul, com o nome de “Escola Superior Agrícola Taquaryense”, no dia 27 de maio de 1895. Este curso teria a duração de três anos e as matérias previstas deveriam seguir como exemplo o Instituto Agrícola da Bahia. Haetinger ressalta que
a escola representava um marco na história do ensino agrícola gaúcho, pois com esta iniciativa colocava-se ao lado dos outros estados da União, conseguindo formar seus próprios agrônomos.
Elisabeth Lisboa e Paulo Lipp, no livro Desenvolvimento da Citricultura no Rio Grande do Sul, destacam a aprovação da escola através do decreto número 2028, sendo que no dia 20 de julho de 1895, o curso foi instalado, vindo para Taquari professores nomeados.
Em 29 de julho de 1897, solenemente na Intendência Municipal, efetuou-se a colação de grau dos seis primeiros engenheiros: Augusto Tito da Fonseca, Antonio Rodrigues Paim, Abílio Soares de Lima, Adalino Saraiva, Leopoldino Orique de Almeida e Ramão Fioravanti Trois. Em 27 de dezembro do mesmo ano, formaram-se mais quatro alunos, entre eles Augusto Gonçalves Borges, sobrinho do presidente do Estado, Borges de Medeiros, que mais tarde veio a ser diretor por duas vezes na Faculdade de Agronomia e Veterinária criada em Porto Alegre em 1910. (SOU ZA, Elisabeth; PAULO , João. 2006:18)
Infelizmente, em 1898, Castilho escreveu um artigo no jornal O Taquaryense anunciando o fechamento da escola por falta de verba. Em janeiro do ano seguinte, ele vendeu o prédio à Assembleia Geral da Sociedade de Asilos, que foi reformado para seu novo destino, de asilo – finalidade que cumpriu por mais de 70 anos. Devido à transferência dos moradores para o edifício Pella, ficou abandonado até ser demolido durante a administração do diretor Arno Dreher (1972-1973).
A Escola Superior de Taquari, como se pode observar a seguir, veio a ser uma consequência da fundação da escola agrícola de nível médio. Foi o resultado da mobilização e reivindicação da comunidade, conscientizada da importância de uma instituição que desenvolvesse tecnologias para aumentar a produção agrícola da região. (SOUZA, Elisabeth; PAULO , João. 2006:17) Cabe
ao município, desta forma, o mérito da primeira escola destinada somente à Agronomia do Estado. (HAETINGER, 1985:09)
Em Pelotas, neste período, já tinha sido fundada – em 8 de dezembro de 1883, pela Lei nº 1324 do mesmo mês e ano –, a “Imperial Escola de Medicina Veterinária e Agricultura Prática”. O seu objetivo, porém, foi mais veterinária, enquanto a Escola de Agricultura de Taquari visou à agricultura. (HAETINGER, 1985:09)
No ano de 1889, a Escola de Pelotas ganhou novos regulamento e nome, passando a denominar-se Liceu Rio-Grandense de Agronomia e Veterinária. No ano seguinte, formou-se uma nova diretoria, que conseguiu implantar definitivamente um curso superior de Agronomia e Veterinária. Em 1897, professores do Liceu criaram a chamada Revista Agrícola do Rio Grande do Sul, destinada à publicação sobre agricultura científica.
Bibliografia consultada
BALEM, Mons. Dr. João Maria. A Paróquia de São José de Taquari. Porto Alegre (s.n), 1949.
CAMARGO, F.A.O. et AL. Curso de Agronomia: projeto político-pedagógico. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
FARIA. Octavio Augusto de – Monografia do Município de Taquari. Porto Alegre. Instituto Estadual do Livro, 1981.
HAETINGER, Walter Martim. A Primeira Escola Superior Agrícola de Taquari: história da Escola de Agricultura e viticultura de Taquari, Escola Superior de Agronomia Taquaryense e da Estação Experimental Barreto Viana. Porto Alegre, 1985.
LAYTANO, Dante de – Cidade Açoriana na América Portuguesa – Taquari e a história documental de sua fundação. Revista do museu Julio de Castilhos e Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
1:185-358. Porto Alegre, 1951.
(org.) ROCHA, Santa Inéz. Açorianos no Rio Grande do Sul. Edições Caravelas. Porto Alegre, 2007.
SILVA, Riograndino da Costa. São José de Taquari. Edições Flama. Porto Alegre. 1971.
SILVA, Riograndino da Costa. Notas à Margem da História do Rio Grande do Sul. Edições Flama. Porto Alegre. 1968.
SOUZA, Elisabeth Lisboa de Saldanha; JOÃO, Paulo Lipp. Desenvolvimento da Citricultura no Rio Grande do Sul: ensino, pesquisa e extensão rural. Porto Alegre. Emater/RS-Ascar, 2006.
JORNAL O TAQUARYENSE, 10 de agosto de 1887. nº3
JORNAL O TAQUARYENSE, 10 fevereiro de 1888. s/n